segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Menestréis - 1 e 2




A Fuga

   Correu o máximo que podia, havia sido condenado à guilhotina, por um crime que não podia evitar, a arte. Estava suando frio, o coração a saltar do peito, sem fôlego, teve que parar, sabia que estava na praia, e precisava encontrar as docas. Foi seguindo o cheiro de madeira.

Quando um barco encontrar,
Poderei me salvar deste ínfimo infortúnio,
A rimas vulgares sujeito.
Quem já partiu foi embora,
Quem foi embora voltará.

   O Menestrel se frustrou por estar com tanto medo e não poder esculpir palavras melhores. Percebeu que estava dentro de um barco. Ele sabia que não havia ninguém ali, tirou um canivete do bolso e cortou as cordas que prendiam o barco à praia. Logo começou a ouvir tambores e gritos selvagens, mas ainda distantes. Tinha que fugir daquela ilha o mais rápido possível.

   O pequeno barco ia lentamente, as ondas estavam calmas para uma noite escura como aquela. O Menestrel tateou tudo o que havia ali, como facas, redes de pesca, papéis sobre uma mesinha, e um baú. Dentro do baú havia vários frascos pequenos, de uma bebida com cheiro de flores, mas o Menestrel ainda não sabia o que era aquela bebida, e não experimentou. Pegou um frasquinho e guardou no bolso. Ele sabia que não seria perseguido agora, estava no mar e não mais seria um infortúnio. Ouviu gritos na praia, lanças e pedras chegaram perto. A ilha ficava cada vez mais distante e ele desmaiou de cansaço.
~

Uma personagem não é mencionada

   Com sua corja, o rei Baleth oprimia o povo com violência. Quando uma família sacrificava um carneiro, colhia trigo, ou usava o moinho, mais da metade do que era produzido devia ser entregue no Palácio do rei. O povo de Árane se sentia escravizado e estava cansado desses enormes tributos e serviços que eram obrigados a prestar.

   Árane era um país, mas era uma única e grande vila. Havia centenas de casinhas simples e pobres de madeira e barro, entre ruas de terra pisoteada. Chovia quase todas as noites, e os dias eram ensolarados. Só o Palácio era luxuoso, e todos eram proibidos de entrar lá sem autorização dos guardiões, que eram vigias e capangas do rei.

   Os áranes eram muito parecidos, pele queimada do sol, cabelos e olhos escuros, respeitosos e honestos, cada família preservava valores distintos. Trabalhavam muito, e por falta de tempo para ensinar os jovens, só os mais velhos ainda sabiam ler e escrever. Às vezes, todos se reuniam no Campo, que ficava no centro da vila, e lá era acesa uma grande fogueira, e os filhos dançavam enquanto os pais e avós cantavam sobre Outrora, uma época em que havia felicidade e vitalidade em Árane, e não amargura e cansaço.

   Calisto, um tecelão, era preocupado, talvez mais do que todos, com a situação humilhante em que se encontravam, subordinados a Baleth. Durante meses, Calisto estudou uma possibilidade de se reunir com o povo em segredo, e essa hora havia chegado, sendo que dia e noite, até nos encontros no Campo, eles eram vigiados pelos guardiões do rei.

   Todos foram cautelosamente avisados sobre a reunião, que aconteceria na madrugada em que vinte dos guardiões participariam de um jantar com o rei Baleth, e os outros quarenta provavelmente comeriam muito e cairiam no sono, como havia suposto Calisto, com base em suas observações.

   No horário combinado, todos foram em silêncio e no escuro para a casa de Calisto, e nenhum guardião percebeu as pessoas nas ruas, andando como em uma procissão. O povo, ao chegar, foi se acomodando como pôde, porque na casa de Calisto, mesmo com muito espaço, não havia muitos bancos e cadeiras, mais da metade das pessoas ficaram do lado de fora, mas de forma com que pudessem participar da reunião. Ficaram em casa as crianças e os muito jovens.

   - Agora podemos conversar e tentar encontrar uma solução para Árane. Nossa última tentativa de destruir Baleth, no ano passado, foi uma decepção, disse Calisto.

   O que foi essa decepção, em outra ocasião será contada.

   - Vocês sabem que ainda há uma esperança, e talvez seja impossível, mas é o que nos resta.

   Continuou Calisto, dizendo o que todos queriam ouvir.

   - Nós precisamos da ajuda de Tílitris!, Calisto estava em cima de uma mesa, e as mulheres se escondiam atrás de seus maridos, com os olhos arregalados. Todos sabiam o que aquilo significava.

   Tílitris era um país ao Leste, e em Outrora, mantinha boas relações com Árane, mas agora estavam isolados um do outro. Baleth entrou no poder de Árane e mudou rapidamente o sistema político, o transformando em um reino opressor. Em Tílitris, ainda haveria respeito e igualdade, e Feltris como soberano de uma nação que sempre foi culturalmente desenvolvida.

   Os áranes acreditavam que Feltris não recusaria um pedido de socorro, para tirar o Baleth do poder. À medida que Calisto falava, a esperança iluminava os olhares daquele povo.

   - Feltris já foi nosso amigo, se ele souber da situação em Árane, ficará do nosso lado, completou Calisto.

   Eritar, um ancião, se levantou para falar.

   - Não sabemos da situação de Tílitris nos dias de hoje, e eles não sabem que fomos escravizados por Baleth. Mas mesmo que possamos contar com o apoio de Tílitris, como poderemos nos comunicar com eles? É impossível passar pelo Portão de Evonuque, o Mandingueiro Búfalo.

   Após Eritar, todos começaram a falar ao mesmo tempo, mas todos a favor de mandarem alguém para Tílitris. Calisto chamou a atenção.

   - Alguém precisa tentar passar pelo Portão de Evonuque, é a única forma de se chegar a Tílitris, não há outro caminho. Difícil será encontrar alguém para ir até lá.

   Cinco homens, pais de família, se voluntariaram para ir. Calisto tomou a palavra novamente.

   - Todos nós agradecemos a coragem de vocês, mas temos que ser discretos, para que ninguém do Palácio perceba o que estamos planejando. O enviado a esta missão deve ser alguém que não faça falta, a pessoa mais insignificante aos olhos do rei.

   Liriar, filha de Eritar, disse:

   - Com todo o respeito, mas quem poderia ser essa pessoa invisível?

   Todos olharam uns para os outros, esperando que alguém se pronunciasse, mas os áranes eram muito orgulhosos, e, apesar das humilhações do dia-a-dia, tentavam manter sua dignidade. Ninguém queria ser considerado insignificante e sem importância.
~

Daniela Ortega

domingo, 22 de novembro de 2009

As aventuras de Balur, o hobbit andarilho - Parte VII


Uma noite de medos e gigantes nas montanhas...


De acordo com o mapa que Telárius me entregara, aquele me parecia ser o Rio Cinzento, logo passaria por uma antiga cidade portuária chamada Tharbard. Não muito povoada naqueles tempos. Minha estadia fora rápida, um banho para me ajudar com o vinho da noite anterior. Até tentei pescar alguns peixes que ficavam debaixo da grande ponte, mas sem sucesso... Improvisei uma vara de pesca, péssima idéia, no primeiro peixe ela se quebrou, eu quase fui arrastado para debaixo da ponte.

Achei melhor e mais seguro comer algumas frutas, elas não se mexiam e nem precisavam ser pescadas. Sentei ao pé de uma árvore para me deliciar com algumas frutas, escutei um barulho, quando olhei para o lado lá estava Narubb. Um sentimento de alegria me tomou naquele momento. Já não estava mais tão sozinho, ela tinha um pequeno papel em uma de suas garras. Era uma mensagem de Telárius; “Balur, tome cuidado ao seguir a Velha Estrada do Sul, existem movimentações estranhas por lá, parece que houve ataques de orcs aos Terrapardenses”.

Era tudo o que eu não precisava. Eu poderia seguir um pequeno rio que corria para o leste até as montanhas sombrias, mas Telárius havia me avisado para nunca tentar atravessar aquelas montanhas. Mas de acordo com o que Telárius me mandara em sua mensagem, de qualquer forma poderia encontrar orcs pelo caminho, nas montanhas eu teria mais chance de escapar, então, segui para as montanhas, o que foi um grande erro...

Logo que li o recado de Telárius, Narubb partiu novamente, mas antes coloquei um recado respondendo à Telárius, dizendo que tinha recebido sua mensagem, mas não mencionei o desvio até as montanhas.

Segui por quatorze dias aquele riacho até bem próximo das montanhas. Narubb não havia aparecido, e eu começava a ficar preocupado. Viajei avistando grandes montanhas no horizonte, ventos fortes vinham de lá, era frio e causava medo. Na ultima noite antes de alcançar as montanhas, acampei próximo a uma grande rocha que se erguia solitária, o terreno era duro e cheio de pequenas pedras, nada comparado com as gramas verdinhas de outros dias ou as confortáveis camas de Bree, mas este era meu caminho e teria que abandonar alguns confortos.

O som dos ventos eram como uivos de lobos, pedras pareciam despencar das montanhas e quando batiam no chão faziam um grande barulho. Foi quando me lembrei das histórias sobre os gigantes que Bilbo viu em sua aventura com Gandalf. Os gigantes ficavam do outro lado do vale, lá embaixo as pedras se despedaçavam e faziam um barulho ensurdecedor. Era uma espécie de jogo, eles jogavam as pedras uns sobre os outros, não consegui vê-los naquela noite, mas dormi ouvindo os grandes estrondos.

Continua...

Arthur Damaso

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

As aventuras de Balur, o hobbit andarilho - Parte VI


“Até breve Telárius!”...

Quando o cachimbo já havia se apagado, surgiu uma leve brisa, e com ela Telárius também apareceu de um lugar que eu até hoje desconheço. Foi engraçado, mas eu o achava um pouco estranho, desde a primeira vez que o vi em Bree. Ele me deu algumas instruções, me entregara um mapa, me mostrou o caminho mais seguro e me disse; “Nunca tente atravessar as Montanhas Sombrias, mesmo que isso signifique encurtar a viagem, há muito mais que pedras naquele lugar!”... Nunca tinha estado naquelas montanhas, não sabia de seus perigos, apenas histórias e canções antigas, mas na dúvida, escute alguém que já tenha visto outras terras e fumado mais cachimbos.

Mas o interessante ainda estava por vir, antes de partir, Telárius sugeriu que Narubb fosse comigo para a viagem, não foi uma idéia agradável, ao menos naquele momento não parecia. Bem, ela tinha demonstrado certa afeição à minha pessoa, concordei com a idéia, no fim era uma companhia, não estaria sozinho o tempo todo.

Eu já estava de saída, quando escutei os passos rápidos de Telárius entrarem em sua e casa, e depois me chamando com certa urgência... ”Já ia me esquecendo! Quero que entregue esta carta a um velho amigo.”... Eu fiquei sem entender, mas ele nem me dissera quem era, até perguntei, ele respondera; “Não se preocupe, você o encontrará, apenas siga o caminho que já planejara fazer”. Bom, tentei não me preocupar com isso, guardei a carta comigo e me despedi daquele velho homem chamado Telárius. “Até breve... eu espero”.

Narubb ficara um tempo com ele ainda. Fui seguindo a estrada, as Montanhas Sombrias eram como uma grande parede de pedra, mas estavam distantes, faziam parte de um imenso horizonte, tomei o caminho verde e segui aquela estrada que na Quarta Era se tornara mais freqüentada, cheia de viajantes, comerciantes e ladrões, mas estes últimos eu não fazia questão de encontrar. Havia rastro de uma carroça, se tivesse sorte alcançaria e até pediria uma ajuda, não seria ruim, economizaria a sola dos pés. Segui com a minha viagem, Narubb ainda não havia me alcançado, nem a tinha visto no céu.

Algumas milhas a frente avistei uma pequena mata, o sol estava se pondo, era um lugar perfeito para acampar, descansar e comer é claro. Havia trazido alguns pães da casa de Telárius, uma garrafa de vinho. Fiz uma fogueira, fiquei pensando onde Narubb poderia estar, por fim, fui tomar meu vinho, tomei um pouco além da conta, já distante do bom juízo decidi subir em uma árvore. Depois de algumas quedas consegui subir, mal havia subido, olhei em um galho ao lado, Narubb estava lá, me olhando com aqueles olhos rutilantes, me assustei e cai de cima da árvore novamente, só que dessa vez acabei ficando lá embaixo, meus olhos foram fechando... Dormi com os pés pra cima e minha cabeça dentro de uma raiz.

Não fora as melhores das noites, com certeza não fora. Minhas costas doíam e minha cabeça também. Lembrei-me de pouca coisa, só que Narubb estava em um galho e então... Esqueci! Mas onde estava ela agora? Fiquei pensando se aquilo tudo fora um sonho, mas meu corpo respondia de forma imediata que não fora um simples sonho. A garrafa de vinho estava vazia, alguns pães no chão, era hora de limpar tudo e partir, o brilho do sol me incomodava muito, mas tinha que continuar.

Depois daquele incidente noturno procurei andar pelas poucas sombras existentes, pelo mapa que eu possuía, deveria existir um rio não muito longe dali, talvez um pouco de água me ajudasse.

Continua...

Arthur Damaso

domingo, 27 de setembro de 2009

As aventuras de Balur, o hobbit andarilho - Parte V


Entre as Colinas Dos Túmulos e a Floresta Velha...

Logo que subi na carroça, perguntei o nome daquele velho homem. Ele me respondera: “Me chamo Telárius, habitante da Floresta Velha, um errante dos ermos nessa época.” Não sabia que alguém tivesse coragem de morar lá, a não ser Tom Bombadil, mas eu nunca o tinha visto lá, mas as histórias eram contadas e lendas proferidas por viajantes e outros hobbits de colinas distantes. Mas ao meu lado estava uma pessoa que dizia morar lá, isso era respeitável, depois de saber disso fiquei tranqüilo, nem mesmo um exército de orcs amedrontaria aquele homem.

Fomos conversando enquanto pegávamos o caminho verde em direção ao sul. De acordo com Telárius, ele morava em uma pequena clareira entre as Colinas dos Túmulos e a Floresta Velha. Morar na Floresta Velha já era um problema, mas morar entre estes dois lugares era como pular no grande Brandevin, um suicídio.

A viagem estava bastante agradável, por algum motivo, Telárius tinha erva de fumo, aquela maravilhosa erva da Quarta-Sul, o velho Toby, até a fumaça era diferente, para ficar melhor, só faltava uma boa caneca de vinho da Dragão Verde, mas isso era pedir demais. Fomos conversando e a viagem se tornara tão breve, nem havia percebido que anoitecera. Eu não havia prestado atenção em uma coisa, teria que passar a noite na casa de Telárius, ele me convidara, não pude recusar.

Esta fora a noite mais longa de toda minha vida. Chegamos em uma casa feita de pedra, era muito antiga, mas aconchegante, possuía uma lareira pequena, havia um caldeirão para o preparo de refeições, mas o pior ainda estava por vir, olhei para uma única janela que havia, percebi que uma enorme coruja azul estava parada lá, me escondi atrás de Telárius. Ele riu muito, me lembro dele chamando o animal; “Narubb”... E depois me dizendo; “É apenas uma coruja, claro, não uma coruja qualquer, venha conhecê-la.”... Não estava disposto a aceitar o convite, mas comecei a olhar para ela, parecia inofensiva, era um animal realmente muito diferente, começando pelo tamanho e pela cor. Eu nem imaginava, mas em breve eu e Narubb teríamos algumas aventuras juntos.

Depois do susto, Telárius arrumou um lugar para que eu passasse a noite, somente alguns lençóis ao lado da lareira, não tinha o conforto da minha cama, mas não podia reclamar. O vento soprava um pouco forte naquela noite, alguns galhos insistiam em cair no teto, outros batendo na janela, eu começava a lembrar das lendas que me contavam quando era mais jovem, era como se o Velho Salgueiro Homem estivesse lá fora, esperando que eu saísse para fumar meu cachimbo, mas não seria fácil assim, permaneci bem quieto, esperando que o sol surgisse, levando a noite e meus medos embora.

Ao amanhecer olhei para os lados e percebi que Telárius não estava mais em sua cama, avistei somente Narubb, parada na janela, me observando. Levantei-me, mas procurei não ficar olhando muito pra ela, sai para ver se encontrava Telárius.

Algumas frutas na mesa me serviram de desjejum, o primeiro desjejum é claro. Depois disso acendi meu velho cachimbo e observei a floresta esperando que Telárius voltasse, isto é, se ele tivesse mesmo ido para algum lugar. O dia nascera belíssimo, partiria para uma viagem mais ao sul, sob o olhar de um magnífico dia.

Continua...

Arthur Damaso

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

As aventuras de Balur, o hobbit andarilho - Parte IV

Visitando Bree...

Mais um dia de viagem e eu estaria em Bree, uma vila muito antiga, conhecida por ter sido a primeira morada dos meus antepassados, antes deles atravessarem o Rio Brandevin. Era tranqüila, mas um lugar ruim em dias de chuva. Por sorte consegui atravessar a Floresta Velha e as Colinas dos Túmulos ainda com o sol como companhia. Cheguei a Bree ao anoitecer, parecia tranqüila, isto é, parecia tranqüila antes de atravessar seus portões.

Na entrada encontrei alguns hobbits, eles saiam de carroça na direção leste, estavam voltando para o Condado, logo pensei que era um bom caminho para se fazer, mas não naquele momento. Entrei naquele pequeno povoado, não havia mudado muito desde a última vez que estive por lá, as mesmas casas, as mesmas pessoas e a mesma rua que levava para “O Pônei Saltitante”. Aquele sim era um bom lugar, tomar aquela maravilhosa cerveja, em um quartilho é claro, e ainda, dormir em quartos feitos para nós, era maravilhoso, parecia um pouco do condado longe das colinas do leste.

Não era mais o velho Cevado Carrapicho que estava no balcão, quem estava em seu lugar era seu neto Cercadinho, um homem alegre e que tentava manter as amizades de seu avô. Neste dia tomei cerveja com alguns hobbits, conversamos sobre assuntos corriqueiros e depois fui dormir. Tentei dormir, mas por fim acabei deixando meu quarto, sai para fumar um pouco e contemplar as belas estrelas do céu. Elas brilhavam e pareciam se comunicar. Sempre me perguntava se alguma delas eram guerreiros de outrora. Ouvia bastantes histórias do mundo, guerras entre homens e orcs, sobre os elfos, eu tentava imaginar a grandeza que estas histórias possuíam, mas no final sempre preferia os contos do Condado e suas poucas aventuras. A noite parecia mais longa, quando meu cachimbo se apagou, decidi voltar e tentar dormir. Deixaria Bree bem cedo, para ganhar tempo, pois era uma longa viagem, era um longo caminho a percorrer.

No outro dia, levantei muito cedo, desci pelas escadas da estalagem, e já havia arrumado minhas coisas, para que pudesse partir em breve. Iria em direção ao sul, pegando o caminho verde. Com tudo resolvido, decidi partir, logo que sai da do Pônei avistei um homem que dizia que estava indo para o sul, foi então que acabei escutando e perguntei a ele se podia lhe fazer companhia. Lembro-me muito bem desse dia, ele nem me olhou, apenas disse franzindo as sobrancelhas; “Sim, coloque suas coisas atrás da carroça e sente aqui ao meu lado”.

Continua...

Arthur Damaso

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

As aventuras de Balur, o hobbit andarilho - Parte III


A Grande Estrada do Leste...

Havia me esquecido como era bom viajar. Alguns anos atrás fui à Bree encontrar velhos amigos, mas esta viagem durou apenas alguns dias, nada comparado a esta aventura. Fui então seguindo um caminho que eu há muito não fazia. Mas meu temor era exatamente este caminho, teria que atravessar o Rio Brandevin, o rio não era o problema, existia uma velha ponte como travessia, mas a Floresta Velha sim era um problema, e não só isso, ainda havia as Colinas dos Túmulos. Todos nós hobbits sabíamos dos perigos que lá existiam. Havia uma lenda sobre uma árvore que se mexia naquela floresta, e ela não gostava de viajantes, era o velho “Salgueiro Homem”; e também de um sujeito bem estranho, Tom Bombadil, mas ele havia desaparecido, talvez abandonado aquelas terras.

Procurei não ficar pensando nisso e segui a estrada, encontrei alguns conhecidos no caminho, outros que eu não via há tempos. No caminho acabei recebendo de bom grado uma ajuda, um hobbit muito gracioso me concedeu o direito de acompanhá-lo em sua carroça até os Campos das Pontes, lá eu acamparia, e de manhã atravessaria os campos pela borda da Floresta Velha, e depois As Colinas dos Túmulos, até então chegar a Bree.

Chegamos aos Campos da Ponte ao anoitecer, aquele com certeza fora um bom dia. Acendemos uma fogueira à beira da estrada, comemos um bom coelho assado e conversamos por muito tempo, contei a ele que estava de partida para terras distantes, ele disse que viria comigo, mas em outra oportunidade. Um novo dia surgiu e me despedi de Baldor, ele ia continuar sua viagem seguindo ao sul até a sua casa na Terra dos Buques. Vi sua carroça se distanciar até desaparecer no horizonte.

Atravessei a ponte do Brandevin e começava a avistar a floresta, o sol começava a surgir no leste e mais um dia se levantava comigo longe de casa. A Cada passo para fora do Condado, um pedaço de mim também ficava para trás, mas não era o fim, e eu tinha certeza que voltaria.

Continua...

Arthur Damaso

domingo, 6 de setembro de 2009

As aventuras de Balur, o hobbit andarilho - Parte II


Seguindo Meus Próprios Passos...

Neste sonho eu viajava para o leste e visitava grandes florestas e encontrava um homem que trajava roupas esquisitas e um grande cajado. Ele estava rodeado de animais e me chamava para... Não me lembro para o que, mas acordei no meio da noite e não consegui mais dormir, eu nunca teria pensado em partir, mas os sonhos foram ficando freqüentes e eu decidi partir para uma longa jornada para um lugar desconhecido por mim. Não era uma atitude comum de um hobbit, eu queria ver as coisas além das fronteiras do condado, repetir os passos de outros hobbits, me lembrei de Frodo, Sam, Bilbo, Merry e Pippin, que acabaram tendo seus nomes escritos e lembrados em histórias e grandes poemas. Talvez essas fossem minhas grandes ambições, mas longe de ser uma obsessão.

Não me acostumei rapidamente com a idéia, tive que pensar bastante. Todos os dias eu me sentava em frente à lareira. Isolei-me de todos por algum tempo. Meu aniversário estava chegando e faria 45 anos no próximo mês. Pensava em partir antes de qualquer surpresa, não gostava de despedidas. Não seria um adeus definitivo, tinha certeza que veria estas colinas novamente, veria fumaça saindo das chaminés, veria as fumaças saindo dos cachimbos, sentiria a brisa que sempre vinha do oeste.

Levei minha vida de sempre para não causar desconfianças por parte de ninguém, e poucos dias antes do meu aniversário parti seguindo a grande estrada do leste. Naquele dia a noite estava estranha, com nuvens carregadas e ventos frios. Não era uma das melhores ocasiões para se viajar, mas juntei algumas roupas, panelas, meu cachimbo, uma garrafa de vinho, um cajado, e assim caminhei em direção a um mundo ainda desconhecido por mim. Não tinha certeza do que estava fazendo, mas não dava para voltar, teria que seguir em frente.

Continua...

Arthur Damaso

domingo, 30 de agosto de 2009

As aventuras de Balur, o hobbit andarilho - Parte I


Eram tempos tranqüilos, dez anos haviam se passado desde a guerra do anel, o Condado agora estava mais calmo, como de costume, e assim nós hobbits pudemos levar nossas vidas com a calma costumeira de sempre. Como disse Bilbo certa vez: “Não é nada ruim celebrar uma vida simples”. Minha toca não ficava muito longe de Bolsão, vazia agora, já que Frodo partiu para o Oeste, junto com Bilbo e os elfos, às vezes, Sam aparecia e relembrava os bons tempos que passou junto com o seu eterno companheiro. Sempre que posso, vou até lá também.

Minha casa fica abaixo de uma colina, uma típica toca de um hobbit. Na entrada uma grande porta redonda pintada de verde, logo abaixo segue uma escada com algumas flores nos cantos, depois tem uma pequena estrada com algumas pedras que vão até a rua. Aos fundos, uma grande cerejeira, plantada pelo meu pai, e ao redor, rosas que eu mesmo plantei. Bem... Depois de muitos anos estou de volta, este lugar continua com a mesma “magia” de sempre, mas eu não sou mais o mesmo hobbit que ficou 15 anos fora de casa.

Desculpem-me, ainda não me apresentei. Meu nome é Balur Bolseiro, vivo em uma confortável toca como já descrevi, moro na Vila dos Hobbits e essas são algumas de minhas memórias.


As Colinas das Torres...

Certa vez resolvi visitar as majestosas torres do oeste, elas me faziam lembrar os que partiram e de alguma forma isso me entristecia. Mesmo com o fim da guerra, não há mais a alegria de outros tempos. Os elfos partiram e restam poucos para contarem histórias dos primórdios do mundo. Após a Guerra do Anel, senhor Aragorn anexou as terras das Colinas das Torres ao Condado, homens eram proibidos de entrar nas terras dos hobbits.

Minha viagem durou alguns dias até as majestosas torres. Estavam trancadas há um bom tempo, consegui abrir uma, depois de um grande esforço, subi no seu ponto mais alto e de lá pude observar o grande mar que cercava estas terras. Um vento suave e fresco vinha do oeste, parecia que me encorajava a sair e visitar outros lugares, não conseguia compreender, mas algo me dizia para partir e contemplar as montanhas e os ermos.

Naquele dia o céu estava magnífico, era possível ver “A Foice dos Valar”, elas rutilavam no céu como velas em meio à escuridão. Eu tinha feito uma fogueira e havia trazido tomates e bacon, recolhido também algumas ervas que cresciam aos pés das torres, foi um belo jantar, mesmo que sem os rotineiros banquetes da estalagem do Dragão Verde. Mas a tranqüilidade ali era tamanha que só se ouvia o barulho da brisa sobre os arbustos e algumas árvores esparsas. Fiquei pensando em tudo o que havia acontecido. A grande guerra havia acabado, estava tudo em paz, a Terra-Média se tornava de novo um bom lugar para se viver, e na imensa paz daquele lugar eu adormeci para um novo dia.

No outro dia bem cedo, resolvi ir até a costa destas baias, ir e ver a imensidão do mar. Não era muito distante e bem rápido cheguei à beira. Parei no alto de uma rocha, peguei uma pequena pedra, fiz um pedido e a joguei na água. Resolvi então voltar à minha velha casa, retomar o conforto do lar.

A viagem de volta fora bem tranqüila... Cheguei à minha velha toca ao anoitecer com certo cansaço, tive tempo de abrir minha grande e redonda porta, acender a lareira e meu cachimbo, ali mesmo em frente à lareira acabei adormecendo e tive um sonho estranho.


Continua...

Arthur Damaso