sábado, 16 de janeiro de 2010

Menestréis - 2 e 3




A Partida

   Olívia Dríniel estava atrasada para a reunião, porque acabou cochilando, despertou sonhando com o compromisso. Saiu às pressas, com cautela para que não fizesse barulho nas ruas escuras, não poderia chamar a atenção dos guardiões. Chegou à casa de Calisto, todos estavam em silêncio.

   A resposta à pergunta de Liriar havia chegado. Calisto chamou Olívia ao seu lado e a explicou o que haviam conversado até então, com algumas interrupções de quem não havia falado ainda.

   - Ninguém, nem mesmo a família Dríniel, percebeu que faltava você aqui. Pedimos desculpas por isso. Mas pode ser que o rei também não perceba sua ausência. E isso é ótimo. Disse Calisto, com o apoio de praticamente todos.

   Olívia não ficou feliz com o que ouviu daquelas pessoas. Seus irmãos eram homens, e filhos homens eram preferidos em sua família, ela era uma pessoa solitária. Ela ajudava a cuidar dos cavalos da vila, e seus irmãos cuidavam dos belos cavalos do Palácio. Gostava de ficar no celeiro com os animais e era a única que nunca ia ao Palácio, nem era vigiada pelos guardiões, porque sua rotina e suas tarefas não necessitavam de fiscalização. Era invisível, como mais ninguém da vila poderia ser.

   - Como eu chegaria a Tílitris sozinha? Não sei o caminho, nunca viajei... E, querem que eu convença Feltris a nos ajudar só agora... não acham que se eles quisessem, já teriam tentado antes?, perguntou Olívia, não acreditando na eficácia do plano.

   Os que mais sabiam sobre Tílitris, explicaram a situação. Em Outrora, Délane era a soberana de Árane, e amiga de Feltris, soberano de Tílitris. Os países eram muito parecidos, e um complementava o outro. Os áranes entendiam dos problemas da terra e da natureza, e os tílitris sabiam sobre os pensamentos e sentimentos das pessoas e animais.

   Evonuque, o grande Mandingueiro Búfalo, construiu um portão que ficava entre Árane e Tílitris, antes de qualquer país existir naquela região, para controlar a passagem de alquimistas estrangeiros, que pudessem roubar plantas e minérios, o que atrapalharia suas mandingas. Mas as mandingas de Evonuque não eram boas nem ruins, eram indiferentes para qualquer um que não fosse um Mandingueiro Búfalo, e restavam poucos naquele tempo, porque muitos morriam envenenados por plantas desconhecidas, ou se exilavam, em busca de algum novo elixir. Eram mais poderosos que os alquimistas.

   Com o passar dos anos, os tílitris foram desejando o conhecimento dos áranes, e vice-versa. Mas a aprendizagem não deu certo, porque todos só desejavam e valorizavam as coisas alheias, se esquecendo de seu verdadeiro conhecimento. E os áranes foram esquecendo suas plantações, enquanto os tílitris só falavam devaneios.

   O portão de Evonuque, que ficava entre esses dois países, não permitia a passagem de sentimentos invejosos, que seria a inveja dos alquimistas por Evonuque. Os áranes e tílitris voltavam para seus países cheios de inveja e ressentimento, por não serem como o povo vizinho. Certo dia, o Portão confundiu a inveja dos áranes e tílitris com a inveja dos alquimistas, fechando-se.

   Nunca mais alguém de Árane foi para Tílitris, nem alguém de Tílitris conseguiu encontrar outro caminho para Árane. Esses países perderam a comunicação. E Délane, triste com a situação, adoeceu, e escolheu um homem de bom caráter para liderar Árane. O novo soberano era Baleth. Délane logo pereceu e com ela se foi Outrora.

   Um soberano fazia o que era melhor para o seu povo. No início, Baleth continuou a seguir o papel de Délane, que era ouvir as pessoas e solucionar pequenos ou grandes problemas, e garantir a segurança, e a harmonia. Mas Baleth construiu o Palácio e para lá levou sua família e aliados que se tornariam guardiões, e assim foram consumidos pela riqueza, que acumularam em segredo e com mentiras, até que um dia, confiscaram todos os aríetes, espadas e lanças da vila. Baleth anunciou ao povo que seria rei, decretando todas as normas e punições que levaram os áranes a serem escravizados.

   Olívia entendeu a situação, e desejou que tudo fosse possível, e que os dias de exploração em Árane acabassem. Por um momento, imaginou como seria sua chega a Tílitris, uma cidade brilhante e colorida, cheia de pessoas alegres sorrindo para ela. Calisto e os demais deram instruções sobre o que falar a Feltris.

   - As dificuldades que você vai encontrar até lá, não sabemos. Mas é a nossa última esperança, já tentamos de tudo para destruir Baleth e falhamos, você sabe disso. Leve poucas coisas, e vá agora, antes do amanhecer, é o momento ideal.

   Com uma expressão de seriedade, Olívia concordou. Mas estava confusa, tudo havia sido decidido tão rapidamente, e era ela quem enfrentaria a estrada, todos ali continuariam suas rotinas, a esperar pela sua volta, com Feltris e talvez com todos os guerreiros de Tílitris. Sua família se aproximou e a abraçou, todos desejaram boa viagem, deram conselhos e a agradeceram.

   A chuva começou a cair, um vento forte assoviava balançando os galhos das árvores lá fora e todos correram para suas casas. Olívia também correu, antes que sua família, e pegou um saco, em que colocou algumas frutas, pão, dois cantis com água e um pedaço de sabão. Foi até o seu quarto e pegou algumas meias e blusas compridas de um tecido marrom e rústico, e uma faca pequena, que usava para tirar a sujeira dos sapatos.

   No estábulo, Olívia se despediu dos animais. Havia um cavalo que ela adotou, um animal quase cego, que havia sido judiado no Palácio, tendo suas orelhas cortadas pela filha de Baleth. O cavalo se chamava Bardax, e era solitário como Olívia. Ela o abraçou, e o levou com ela, explicando as razões pelas quais iriam viajar. Saíram naquela tempestade escura.
~

Mar dos Espelhos

   Os primeiros raios de sol secaram-lhe as vestes e os cabelos dos respingos salgados. Não carregava nada com si, tudo o que precisava cabia em seus diversos bolsos. Passou os dedos sobre sua bússola, e percebeu que ela havia molhado muito. Estava perdido.

   Com os braços para fora do barco, tocou a água, e ouviu o belo som de cristais. Estava no Mar dos Espelhos, o mar do continente. Já passara pelo oceano sem perceber, talvez havia dormido por 3 ou 4 dias. O som de pássaros estava cada vez mais perto.

   O Mar dos Espelhos tinha algo de especial. Quando os seres terrestres olhavam para a água, viam espelhos imprevisíveis, que não refletiam as imagens, mas sim as lembranças esquecidas. Muitas vezes os marinheiros sentiam tantas saudades do que não lembravam, que se atiravam ao mar, de encontro com o que viam. E o mesmo faziam, de tão alucinados, quando as lembranças eram ruins. O mar os tragava e os levava para o oceano, e aquelas pessoas viravam meras lembranças. Quando a água era tocada pelos seres terrestres, ouvia-se uma sinfonia de sinos e cristais dos espelhos.

   O perigo do Mar dos Espelhos não era uma ameaça para o Menestrel, ele nascera cego. Mas outras pessoas também conseguiam passar por esse mar. Eram as pessoas que vinham de lugares distantes e mágicos, porque de alguma forma, sabiam o segredo do Mar dos Espelhos, e elas prosseguiam a viagem naturalmente, como se tudo o que vissem não as afetasse de forma alguma. As pessoas de Tílitris sabiam esse segredo, mas ele se perdeu em Outrora.

   O Menestrel era alegre e determinado, mesmo estando perdido, tinha esperanças de que de alguma forma alcançaria seus objetivos. Não tinha jeito, para Tílitris não poderia mais voltar. Tirou sua gaita do bolso da blusa, e começou a inventar.

O segredo que o mar tem
Não é coisa de espantar
Não há riacho nem rio
Que nele não vá parar...
~

Daniela Ortega

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Taverna do Bardo - Parte 3



O velho homem saiu da Taverna do Bardo atrás de Alrosth para perguntar mais coisas, mas não o encontrou lá fora. Voltou para a estalagem e subiu rapidamente as escadas em espiral, tropeçando no seu casaco de couro de elefante. Lá embaixo, o bardo novamente tocava seu bandolim, e os homens bebiam excessivamente.

O corredor era estreito, havia muitas portas, o velho entrou em um daqueles quartos. Havia espadas de vários tamanhos fixadas nas quatro paredes, e sacos espalhados pelo chão, cheios de frágeis e belíssimos objetos de marfim, o velho teve cuidado para não pisar em nenhum deles. Seu senhor estava na janela e se virou dizendo:

― Ousa me incomodar, Canopus, o que há?

― Meu senhor, o dos Múltiplos Nomes ― disse o velho, abaixando a cabeça em reverência. ― Um homem do leste o persegue! Seu nome é Alrosth, ele se referiu ao senhor como Rodd.

O dos Múltiplos Nomes se voltou novamente para a janela, preocupado. Sabia que o tal Alrosth devia ser bom em seguir pistas, não o havia percebido. Rodd foi o nome que usou quando estava nas Terras do Leste.

Alrosth vagava sem rumo por Bélidan, era tarde da noite e ainda havia movimento no centro da cidade, com pessoas vendendo peixes frescos, frutas, grãos, roupas, óleos, objetos e utensílios domésticos. Alrosth começava a se sentir cansado, e agora permaneceria na cidade, desconfiava que Rodd estava ali, principalmente depois da reação dos homens na Taverna do Bardo. Acomodou-se no final de uma alameda escura, sob uma pequena árvore que parecia sufocada na calçada de pedras, deitou-se no chão e fechou os olhos, atento caso alguém aparecesse.

― Esse ponto é meu, não quero nem saber! ― gritou um menininho mendigo, ao lado de Alrosth.

― Você dorme aqui? ― perguntou Alrosth.

― Desde sempre. ― disse o menino, limpando a sujeira em seu rosto.

Alrosth sentou-se do outro lado da árvore, e o menino se acomodou.

― Quer pão? ― perguntou o menino, segurando um saco. ― Coma, peguei de um anão distraído, que corria atrás de uma criatura estranha.

Alrosth fez um sinal com a cabeça de que não queria comer e perguntou:

― Ele estava com um elfo?

― Hm... sim, tinha um elfo correndo também. ― disse o menino, apreciando cada pedaço do pão.
Alrosth pensou por alguns minutos e dormiu ao lado do menino.

Continua...

Por Arthur, Alcy e Daniela

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

As aventuras de Balur, o hobbit andarilho - Parte VIII


Várias pedras no caminho...

Não fora uma noite tão agradável, levantei antes mesmo do nascer do sol. Quanto mais rápido eu saísse daquelas montanhas, mais estaria longe de um risco eminente... encontrar orcs.

Minha saída era continuar aos pés das montanhas, me dirigindo sempre ao sul, ao final eu chegaria à grande Torre de Orthanc. Antes uma olhada no mapa. Não conhecia muito sobre aquelas terras, mas no mapa indicava mais ao sul a região dos Terrapardenses. Na época, eu não sabia de muitas histórias, e muito menos dos acontecimentos da Quarta Era do Sol. Naqueles anos pós Guerra do Anel, o Rei Aragorn perdoou os Terrapardenses, assim eles se tornaram menos hostis, mas ainda eram pessoas estranhas.

O caminho aos pés das montanhas era ruim, bastante irregular, pedras soltas me faziam escorregar, mas, parecia que era o caminho mais seguro. Aquelas terras não eram de importância aos Terrapardenses, o que era bom, dificilmente encontraria com algum habitante daquele lugar. Viajar a noite não era uma boa idéia, pois, uma coisa havia aprendido com o velho Telárius; “Nunca viaje a noite, os orcs são como Narubb, saem para caçar na escuridão”.

Alguns dias depois de ouvir os gigantes nas montanhas, pude ter uma boa noite de sono, mesmo que, me acomodando sobre pedras. Não havia muito que comer nas montanhas, a comida trazida da casa de Telárius havia acabado... Eu estava começando a ficar desesperado, não era um bom caçador, mesmo se fosse, para isso, teria que me afastar das montanhas, o que era um risco muito grande. Se pelo menos Narubb estivesse lá, ela poderia me ajudar bastante, mas eu não podia contar com ela.

Minha vista do horizonte começava a mudar, as montanhas pareciam diminuir, como que anunciando o fim dessa imensa cordilheira, que se estendia desde as colinas de Bree, bem ao norte. Meu desvio, um atalho por assim dizer, havia dado certo até aquele momento, não havia encontrado orcs, não havia visto mais Narubb.

Nas Montanhas Sombrias era sempre sol, o terreno era árido demais, o que mostrava pouca chuva na maior parte do ano. À medida que eu caminhava, a fome ficava mais insuportável. A idéia de tomar outro caminho para tentar procurar comida já não era um risco, e sim uma grande possibilidade de sobrevivência. Mas para onde eu iria? Tentava algo por entre as montanhas, ou seguiria para encontrar algum acampamento dos Terrapardenses? Perguntas difíceis naquele momento...

Talvez meu “Até breve” à Telárius tenha sido precipitado, minha jornada estava longe do fim. Eu estava com fome em um lugar inóspito. Não havia água, comida, amoras, cerejas, uma grande árvores para descansar em suas raízes, até as ervas de fumo haviam acabado, nesse momento eu pensava: “Talvez tenha sido um grande erro sair do Condado”.

Continua...

Arthur Damaso

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Taverna do Bardo - Parte 2


Não se sentia cansado, mas também não convinha viajar a noite. O certo seria se hospedar ali mesmo. No balcão, perto de uma escada em espiral, estava um homem parrudo, já de idade avançada, que prestava atenção na apresentação do bardo.

― Uma boa noite para velhas canções ― falou Alrosth.

― Essa não é tão velha assim ― disse o homem, virando a cabeça para encarar Alrosth.

― E o que alguém do leste faz aqui, tão longe do conforto?

Alrosth ficou calado por alguns momentos. Seu sotaque era inconfundível, porém isso não atrapalharia a missão.

― Procuro por um homem. Segundo minhas informações ele pode estar nesta cidade ― falou. Era preciso extrair um pouco mais do homem, antes de decidir se era seguro revelar mais da missão.

― Com tantas pistas assim fica difícil falar ― ele começava a parecer interessado. Diminuiu o tom da voz e chegou perto de onde Alrosth tinha se sentado. ― Pode ser mais claro?

― O nome que tenho é Rodd ― disse Alrosth.

De imediato o bardo parou de cantar. O lugar foi invadido por um desconcertante silêncio e todos encararam Alrosth. Ele olhou em volta e o que viu foram vários pares de olhos que brilhavam numa mistura de medo e ódio. Enfiou lentamente a mão dentro da capa e segurou a bainha da espada.

― Saia já daqui ― sussurrou o homem, dando a volta pelo balcão e empurrando-o por entre as mesas até a saída. ― Eles vão logo se esquecer disso, mas não apareça de novo por aqui, nem saia por aí dizendo besteiras como essa.

A primeira impressão da cidade não tinha sido muito boa. Mas algo começava a se confirmar: Rodd estava em Bélidan.

Continua...

Por Arthur, Alcy e Daniela

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Taverna do Bardo - Parte 1


Depois de alguns dias de viagem em uma estrada deserta, Alrosth chegara a uma cidade chamada Bélidan, ele procurava um homem, que a partir de algumas informações, estaria nesta cidade.

Era uma grande cidade, um centro de comércio, seria difícil encontrar alguém naquele lugar. A cidade tinha boa parte das casas feita de pedra, só algumas casas fora do muro externo não eram feitas de pedra. Guardas vigiavam de altas torres, grandes arcos e flechas tão afiadas quanto uma espada.

Alrosth trajava uma roupa verde, já desbotada pelo tempo, ele já não era tão jovem, talvez trinta anos, era alto, mas não muito forte. Um arco longo nas costas, uma aljava feita de couro, e um punhal que guardava dentro de sua bota.

Ele estava sem direção, pois, não conhecia a cidade. Anoitecera, e então, ele fora procurar uma taverna e uma possível estalagem para pernoitar, foi seguindo por um longo corredor, algumas portas dos lados, muitas janelas e algumas lamparinas presas em alguns portais. Lá, bem distante Alrosth avistou uma placa de madeira escrita, "Taverna do Bardo". Muitas luzes acesas, ele seguiu pelo corredor, passou por um homem encapuzado, mas ele não tinha certeza que era mesmo um homem, Alrosth não conseguiu ver o que era, tentou passar despercebido.

Na porta, estavam um anão, um elfo e uma criatura estranha, não sendo vista com freqüência por aquelas terras, possivelmente um goblin. Alrosth aproveitou a ocasião para fazer algumas perguntas;

― Boa noite senhores! ― disse Alrosth. ― Meu nome é Alrosth, das Terras do Leste. Espero não estar atrapalhando esta bela noite.

O anão olhou diretamente nos olhos de Alrosth. ― Boa noite viajante! ― Nada mais disse o anão.

― Não se preocupe com Théran. ― disse o elfo, com uma feição amigável. ― Saudações, nobre viajante, meu nome é Hellian, das Florestas Longínquas de Aldenian. Não atrapalha, só estamos de passagem, ficaremos aqui só esta noite. Levaremos esta criatura até o próximo posto de guarda, não muito longe, talvez, um dia de viagem.

Alrosth percebeu que o elfo estava disposto a ajudar, mesmo que de forma ínfima. ― Estou à procura de um homem, seguindo-o através de várias léguas. Você sabe alguém de confiança para me dar informações seguras?

― Mas, o que este homem fez? ― O elfo queria saber de algo. Mas parecia que Alrosth não falaria nada, mesmo para um elfo que parecia tentar ajudar. ― Desculpe, mas é uma missão de bastante discrição.

― Agradeço a ajuda de vocês. Vou entrar na taverna, aproveitar esta boa música e tentar descobrir alguma coisa. ― Alrosth percebeu que não adiantaria ficar ali. ― Até breve senhores! Boa Noite.

Alrosth entrou na estalagem. No canto, bem perto da janela estava um bardo tocando seu bandolim, enquanto, outros bebiam e se divertiam. A estalagem estava cheia de viajantes, possivelmente; ladrões, assassinos, mercenários.

Continua...

Por Arthur, Alcy e Daniela