Mirante dos Dragões
Desceu do barco e deitou na praia, chegara ao continente a tempo, os barris de água doce haviam acabado um dia antes. E no barco só encontrara cocos e castanhas para comer, dentro de sacos sujos. Desejou enxergar aquele céu, que todos diziam ser azul como o mar, mas um azul diferente. O Menestrel não sabia o que eram as cores, e não entendia quando lhe explicavam.
Levantou-se e seguiu para o sertão. Era aproximadamente meio dia, pela intensidade do Sol, mas talvez no continente tudo fosse diferente, não sabia. Estava em uma mata de coqueiros altos, e ouviu o som de um riacho. Foi correndo e cantarolando naquela direção.
- Rio brincando no rio e canto em qualquer canto.
Bebeu muita água e adiante encontrou algumas laranjas. Por todo o caminho, havia árvores com frutas cítricas. Ele se sentia feliz, sempre pulando e cantando. Após uma longa caminhada, tropeçou em um galho, e ralou os joelhos em algumas pedras, sangrou um pouco. Ele chorou como uma criança, rastejou por uns metros e ficou sentado por um tempo descansando.
Laranja boa e madura,
À toa na estrada,
Não é laranja qualquer:
Tem praga, ou está bichada.
Azar eu tenho, longe do meu lar
Vou me levantar e dar no pé...
As árvores começaram a ficar diferentes, mais barulhentas e com mais sombra. Estava fresco e era noite. O Menestrel estava com fome, mas se aconchegou na raiz de uma árvore que aparentava ser bem grande. As árvores não o assustaram com todo o alvoroço, ele gostava daquele som que parecia ser maligno, porque no fundo sabia que não era. Ouviu o uivar de animais, mas ficou quieto e dormiu. Estava perto de onde queria estar, mas não sabia disso.
Com o sol já quente, o Menestrel acordou e correu até o rio, queria tomar um banho, mas já havia perdido muito tempo. Ele caminhava rápido dando pulinhos alegres, e sabia que já estava perto do Mirante. Percebeu isso porque, seguindo o rio, ouviu o som de uma cachoeira que deveria ser muito alta, isso o fez gritar muito, de uma felicidade inexplicável. Ele estava molhado por causa do vapor e seu machucado no joelho ardia. Lá em cima estava o Mirante dos Dragões, de que tanto ouvira em histórias de Tílitris, que ele mesmo recontava. Não havia dragões no Mundo, mas o Menestrel acreditava que no passado eles existiram, e que moravam ali, onde ele estava agora. O Menestrel acreditava nas histórias de sua avó, que seu pai contava, sobre a possível existência uma passagem por uma gruta dentro da cachoeira, que era o caminho para embaixo do Mundo, e que lá ainda estariam os últimos dragões. Mas ele não entraria ali e precisava continuar a caminhada, escalando um grande paredão de pedras, ao lado da cachoeira.
No topo do Mirante e em cima da cachoeira que realmente deveria ser grande pelo tempo que demorou na escalada, o Menestrel imaginou como deveria ser saber o que tinha no horizonte. Ele tirou suas roupas e as torceu, as vestiu e sentiu falta de alguns guizos que ficavam dependurados em sua blusa. Estava calor, e andando ao vento, logo estava seco, foi seguindo o rio e sentiu fome. Tinha que segurar seu chapéu em forma de cone para que não voasse.
O Menestrel estava em uma busca que talvez seria impossível. Fugiu de Tílitris para escapar da morte e procurar por Feltris. Mas antes precisaria encontrar alguém.
~
Na Floresta Azul
Feltris, após ter sido isolado de Árane e de sua amiga Délane pelo bloqueio do Mandingueiro Búfalo, caiu em sombras e desencanto. Os tílitris estavam sem segurança, e foi quando o Alquimista apareceu. Era ambicioso, e ofereceu ajuda a Feltris naquele momento de tristeza. Mas o trapaceiro Alquimista preparou uma tocaia e o mandou para o exílio, que somente a Raposa Velha sabia onde ficava.
O Menestrel estava à procura da Raposa Velha, que vivia na Floresta Azul. Ele já estava na Floresta, mas não sabia. E cantava:
O canto tem rumo certo
Como o peito aberto esconde o grito.
Já não mais ficarei em mim
Para compor o recado da presença.
O Alquimista confiscou todos os bens dos tílitris, e os que se juntaram a ele tinham regalias, e faziam a cabeça do povo, dizendo que Feltris estava longe para cuidar de sua doença, e que o Alquimista era um homem que iria trazer a felicidade de volta a Tílitris. Mas isso não aconteceu. Os artistas e opositores foram perseguidos e enforcados. As pessoas, com medo, obedeciam fielmente ao Alquimista.
A mãe do Menestrel esculpia em madeira, e foi enforcada por retratar o sofrimento do povo e a saudade de Feltris em suas obras. O Menestrel se revoltou com isso e fez muitos poemas conta o Alquimista, numa tentativa de libertar a mente dos tílitris para que eles pudessem contestar o Alquimista e fazer alguma coisa para trazer Feltris de volta, se ainda estivesse vivo. O Alquimista prendeu o Menestrel e o condenou à guilhotina. Mas ele conseguiu fugir da prisão e escapar da ilha.
O Menestrel teve a ajuda de um falso aliado do Alquimista, que trabalhava na prisão. O homem disse que havia ouvido umas conversas do Alquimista, em que ele citava Feltris e uma tal Raposa Velha, que poderia estragar tudo porque eles não a encontraram.
O Menestrel comeu algumas ervas cheirosas, e se sentiu exausto, cheio de picadas de formigas e mosquitos. A noite estava chegando e ele se sentiu indefeso, no meio de uma floresta que parecia o guiar a caminhar em círculos.
~
Daniela Ortega
Pobre Menestrel, passou por muitos apuros, perdeu sua mãe. Ele quase teve o mesmo destino, mas foi salvo...
ResponderExcluirNa floresta, o menestrel me lembrou muito Tom Bombadil, sempre cantando e pulando, mesmo nos momentos difíceis... ^^
Então, Feltris está perdido em um lugar, este que só a raposa conhece... O Menestrel irá encontrá-la (a raposa)?
Sim, irá. No próximo fragmento que já escrevi... chegaremos lá.
ResponderExcluir