Gitanos e Menestréis
Dois dias se passaram. Soldados do
exército do Alquimista se aproximavam. A festa havia acabado e as pessoas se
reconstruíam, com sua liberdade e oxigênio. Leviatã então os recebeu.
- Viemos dizer que estamos com a terra de
Árane. E que o Alquimista foi muito bem recebido nessas terras. Propomos um
acordo de paz.
- Olívia lacrimejou os olhos. Imaginou o
pior. Mas, então, em minutos, enquanto olhava para o grande Leviatã, uma
criatura mítica, inexistente no mundo dos áranes... conversando com um soldado.
Compreendeu tudo. E tudo girava ao seu redor. Os sentimentos foram intensos.
Ela escutava e mais e mais compreendia. Havia cumprido sua missão.
Eis o que aconteceu. O Alquimista não era
na verdade um alquimista. Tílitris era uma ilha de fantasia e magia, de
artistas e liberdade. O alquimista era apenas um administrador da ordem, que
nada sabia de alquimia. Para os tílitris, era um ditador. Em Árane, tomou o
castelo. E despejou Baleth de lá.
Impôs sua administração, que envolvia
tratados e leis, reuniões burocráticas, econômicas. Era disso que os áranes precisavam.
E o alquimista, assim que soube da situação em Árane, já logo pensou nesse
plano. Com a invasão de Leviatã, fugiu rumo a um novo começo.
Diante de todas essas notícias, Olívia
duvidava se realmente isso era verdade. Foi quando viu Calisto.
- Calisto! Calisto! Correu em direção a
ele, e todos olharam a cena.
Calisto a abraçou. E confirmou tudo
aquilo. Tinha um semblante feliz, e vestia uma insígnia de Árane, há muito
tempo esquecida. Conversou com ele e perguntou de tudo e de todos. Sua família
estava muito bem. Mas de alguma forma, Olívia não sentia saudades. E não estava
com vontade de viver o estilo alquimista de governar árane, por mais que as
pessoas estivessem mais felizes do que nunca.
Ao anoitecer, naquele dia, Olívia andou
pelas ruas de Tílitris, enfeitadas com fitas, cheias de caixas com algas
coloridas e maravilhosas para se comer nas ruas. Ela então não pertencia a
nenhum lugar. A única coisa que queria era Bardax. Se lembrou de Feltris, da
Raposa Velha. E sentia como se os animais fossem a sua família. Que ela
perdera. Foi falar com o menestrel.
- Menestrel! Ele se virou, e usava vendas
douradas sobre os olhos.
- O que estás a cantar, cara Olívia ?
- Menestrel, por que você está fazendo
essas malas? Vai embora? Me deixa te seguir.
Mas é claro que você virá. Pensa que todos
terão um final feliz menos você? Vou para o meu povo. Eu pertenço a algum
lugar. E você a um ser muito especial. O menestrel tirou então o seu chapéu de
palhaço, que usava sempre. E seus cabelos avermelhados caíram sobre seus
ombros.
Ele se parecia agora muito com os gitanos.
Que levaram Bardax. – Você é um dos gitanos, Menestrel? E mais uma vez, Olívia
teve uma confusão de esclarecimentos em sua cabeça, se é que isso é possível. Ele
era um artista, era um gitano.
- Bardax está a sua espera com os
menestréis, Olívia. No outro dia, eles seguiram rumo ao Sul, em um barco
dourado, com as insígnias de Leviatã. A ilha de Tílitris ficava mais bonita
quanto mais distante sumia no horizonte. Suas luzes eram como o reflexo do sol
em um dia de chuva, e causavam uma alegria calorosa.
Fim.
~
Daniela Ortega