domingo, 16 de novembro de 2014

Menestréis - 13



Ao Confim

   De manhã, as raposas estavam prontas para a despedida. Havia suco e bolinhos de erva e insetos para o desjejum. Olívia não teve receio de comer bolinho de insetos, era uma delícia, as raposas pareciam comer somente aquilo e as ervas tinham um aroma que despertava o apetite. Comeram e se despediram das raposas. A Raposa Velha os abraçou e desejou boa sorte, a mochila de Olívia estava cheia de bolinhos para a viagem. O Menestrel cantava adeus enquanto as raposas acompanhavam a canção uivando, até que sua voz virou um sussurro distante:

Vou-me embora desta terra.
É mentira eu não vou não,
Quem vai é só o corpo,
Fica aqui meu coração.

   Olívia perguntou ao Menestrel como ele conseguia se desviar de obstáculos e perceber as coisas tão bem sem enxergá-las. E ele respondeu:

   - Eu enxergo com os olhos da minha percepção. O mundo gira mais rápido que a percepção das pessoas, porque deixam se enganar pelo mecanismo dos olhos. 

   Olívia nunca se esqueceu daquilo, e admirou-o a partir daquele momento, o tomando como Mestre.

   - Mestre Menestrel, precisamos de uma nova visão do mundo, para ser compartilhada com as pessoas que nos esperam. Disse Olívia.

   A caminhada ganhava um ritmo. Eram guerreiros indo para a batalha. Rapidamente chegaram ao Mirante dos Dragões. Olívia sorria e gritava, a cachoeira a deixava feliz, era muito bonita, com uma enorme cascata de espumas brancas e véus em vapor de arco-íris que flutuavam no local.

   - Usaremos o truque do cipó, disse o Menestrel.

   E ela pegou uma corda em sua mochila, a amarrando na árvore mais próxima do precipício. Eles se amarraram e foram descendo ao lado da cascata. O som era muito alto, e mesmo que gritassem não conseguiriam ouvir suas vozes. Olívia olhou as pedras lá embaixo e ficou tonta, era muito bonito, ensurdecedor e frio, apesar do forte brilho do Sol. O Menestrel começou a balançar para frente, e eles pularam para dentro da cachoeira.

   O Menestrel estava com a pele dos braços e pernas esfolados, e Olívia sentia o rosto arder e sangrar. Era muito escuro, mas conseguiam avistar do lado oposto à cascata um túnel que descia e parecia não ter fim.

   Caminharam durante muitas horas no escuro, e já estavam secos quando pararam para comer alguns bolinhos. Sentiam medo em silêncio, atentos a qualquer ruído. Após mais horas de caminhada, e muito cansados, sentiram necessidade de dormir, não tinham noção de tempo naquele lugar. Parecia que estavam ali há anos, embora estivessem ali há um dia.

   O Menestrel começou a farejar e tatear as paredes de pedra do túnel, dizendo:

   - O que vê adiante, Olívia? O que é?

   - Nada, Mestre, não consigo enxergar, como você. Disse Olívia, que tocou o rosto para ter certeza de que seus olhos estavam abertos, pois, só via escuridão.

   Caminharam mais um pouco, e Olívia começava a perceber um feixe de luz muito apagada:

   - Sim, estou vendo uma luz, alguma coisa... E começaram a correr com a respiração ofegante.


~

Daniela Ortega

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