De
manhã, as raposas estavam prontas para a despedida. Havia suco e bolinhos de
erva e insetos para o desjejum. Olívia não teve receio de comer bolinho de
insetos, era uma delícia, as raposas pareciam comer somente aquilo e as ervas
tinham um aroma que despertava o apetite. Comeram e se despediram das raposas.
A Raposa Velha os abraçou e desejou boa sorte, a mochila de Olívia estava cheia
de bolinhos para a viagem. O Menestrel cantava adeus enquanto as raposas
acompanhavam a canção uivando, até que sua voz virou um sussurro distante:
Vou-me
embora desta terra.
É
mentira eu não vou não,
Quem
vai é só o corpo,
Fica
aqui meu coração.
Olívia perguntou ao Menestrel como ele
conseguia se desviar de obstáculos e perceber as coisas tão bem sem enxergá-las.
E ele respondeu:
- Eu enxergo com os olhos da minha
percepção. O mundo gira mais rápido que a percepção das pessoas, porque deixam
se enganar pelo mecanismo dos olhos.
Olívia nunca se esqueceu daquilo, e
admirou-o a partir daquele momento, o tomando como Mestre.
- Mestre Menestrel, precisamos de uma nova
visão do mundo, para ser compartilhada com as pessoas que nos esperam. Disse
Olívia.
A caminhada ganhava um ritmo. Eram
guerreiros indo para a batalha. Rapidamente chegaram ao Mirante dos Dragões. Olívia
sorria e gritava, a cachoeira a deixava feliz, era muito bonita, com uma enorme
cascata de espumas brancas e véus em vapor de arco-íris que flutuavam no local.
- Usaremos o truque do cipó, disse o Menestrel.
E ela pegou uma corda em sua mochila, a
amarrando na árvore mais próxima do precipício. Eles se amarraram e foram
descendo ao lado da cascata. O som era muito alto, e mesmo que gritassem não
conseguiriam ouvir suas vozes. Olívia olhou as pedras lá embaixo e ficou tonta,
era muito bonito, ensurdecedor e frio, apesar do forte brilho do Sol. O
Menestrel começou a balançar para frente, e eles pularam para dentro da
cachoeira.
O Menestrel estava com a pele dos braços e
pernas esfolados, e Olívia sentia o rosto arder e sangrar. Era muito escuro,
mas conseguiam avistar do lado oposto à cascata um túnel que descia e parecia não
ter fim.
Caminharam durante muitas horas no escuro,
e já estavam secos quando pararam para comer alguns bolinhos. Sentiam medo em
silêncio, atentos a qualquer ruído. Após mais horas de caminhada, e muito
cansados, sentiram necessidade de dormir, não tinham noção de tempo naquele
lugar. Parecia que estavam ali há anos, embora estivessem ali há um dia.
O Menestrel começou a farejar e tatear as
paredes de pedra do túnel, dizendo:
- O que vê adiante, Olívia? O que é?
- Nada, Mestre, não consigo enxergar, como
você. Disse Olívia, que tocou o rosto para ter certeza de que seus olhos
estavam abertos, pois, só via escuridão.
Caminharam mais um pouco, e Olívia
começava a perceber um feixe de luz muito apagada:
- Sim, estou vendo uma luz, alguma
coisa... E começaram a correr com a respiração ofegante.
~
Daniela Ortega
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