domingo, 16 de novembro de 2014

Menestréis - 10 e 11



Túnel de Raízes 

   Olívia não conseguiu dormir por vários motivos. Estava sozinha, não sabia como chegar a Tílitris, e estava preocupada com o que Evonuque havia dito sobre a poção cintilante que ela precisaria beber para sair do continente. Ainda era madrugada e ela decidiu continuar a caminhar, mas tudo estava tão escuro, que quando Olívia percebeu que estava afundando rapidamente na areia, já era tarde.

   Não conseguia respirar e seus olhos ardiam, sua cabeça havia afundado completamente na areia seca, quando Olívia sentiu algo puxar suas pernas com voracidade. Caiu dentro de uma bolha de ar, sobre um lago de lama, em um lugar estranho e sujo. Olívia esfregou os olhos, que ardiam mais ainda, mas aos poucos conseguiu enxergar à frente um túnel comprido, de raízes de árvores velhas, e minhocas que saltavam para fora da lama em movimentos sincronizados, parecia uma dança.

   Dentro da bolha, Olívia sentiu que o ar estava rarefeito e que precisava ir em direção ao túnel, para tentar voltar para a superfície. Então ela se levantou e começou a andar para frente, fazendo a bolha de ar se mover, com cuidado para que não estourasse. E finalmente Olívia estava no túnel, maravilhada com a beleza das raízes gigantes e antigas que a cercavam. Mas a bolha insistia em descer e ela prendeu a respiração e espetou a bolha com a faca em sua mochila, subindo rapidamente pelas raízes, suas mãos e seus joelhos sangravam, mas ela continuou até que o túnel ficou muito escuro e ela percebeu que estava dentro do tronco de uma árvore seca. Deu pontapés e socos na árvore e a madeira rachou, fazendo com que ela escorregasse para fora com muita lama. Respirou fundo e tossiu, estava na superfície.

   As roupas estavam secando em galhos de árvores e Olívia brincava com a água brilhante do riacho, estava encantada com aquele lugar, era uma manhã de sol e estava calor. Olívia se secou, guardou o pedaço de sabão na mochila, vestiu uma das blusas de tecido marrom e rústico e meias  secas, esperando sua calça secar com o sol, o que não demorou para acontecer. Ela pensava em Bardax, se havia alcançado os ciganos e chegado à Tenda Magnífica.

   Ao caminhar por aquela floresta azul, Olívia sentia como se estivesse em outro mundo, as plantas eram de todas as tonalidades de azul, a grama era azul esverdeada, as folhas das árvores eram azul cerúleo e seus troncos azul da Prússia, os pássaros eram azul Persa bem intenso, outros pequenos animais eram a maioria azul Royal e a terra azul cobalto muito brilhante, como se fosse cristais e diamantes azuis sedimentados.

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A Raposa Velha 

   O Menestrel ouviu passos e se levantou, parando de cantar, era uma tarde de calor, e os raios de sol atravessavam as folhas das árvores. Uma voz feminina e forte soou:

   - Quem és, caro cantor? O que procuras na Floresta Azul? E o que poderia ser, além de sabedoria.

   - Procuro a Raposa Velha. Disse o Menestrel, com a voz fraca de tão grande a fome que sentia.

   - A Raposa Velha é minha mãe, e mãe de todas as raposas daqui, é a mais esperta deste mundo. Queres ensinamentos de esperteza? Respondeu a Raposinha.

   - Não sei ao certo... talvez. Leve-me até ela, por favor. O Menestrel desmaiou de fome, e a Raposinha o fez beber um pouco de água e lhe deu bolinhas de ervas e insetos amassados para ele comer. Ele se sentiu melhor e ela o levou até o bando de raposas.

   A Raposa Velha estava esperando pela Raposinha, que havia saído há poucos minutos para buscar um caminhante. E logo os avistou descendo a escadaria de raízes.

   - Que seja bem recebido em nossa casa, a Floresta Azul. Me procuras? A Raposa Velha tinha uma voz muito forte e bela.

   O Menestrel virou-se para a direção daquela voz e disse, agitado e alegre:

   - Sou um fugitivo de Tílitris, Raposa Velha, e há dias a procuro neste continente.

   O Menestrel ouviu vários passos e percebeu que ali deveriam estar muitas raposas.

   - Se és um fugitivo, suponho o que queres aqui, mas diga com suas palavras. Disse a Raposa, com uma voz amigável.

   - Preciso encontrar o soberano de meu país, Feltris. E havia rumores sobre ele, em que seu nome era citado. É tudo o que sei, espero que a senhora possa me ajudar.

   - Era o que eu imaginava. Feltris está abaixo de nós, nos confins do submundo. Lembro que vi um Alquimista e um exército, com seu soberano acorrentado, estavam indo para o Mirante dos Dragões. Eles perceberam que eu os observava, mas consegui fugir. A Floresta Azul me protege, e daqui não me aventuro a sair mais, disse a Raposa Velha.

   As raposas começaram a uivar, concordando com o que a Raposa Velha havia dito. Eram uivos fortes e agradáveis. Quando o Menestrel começou a falar, todos ficaram em silêncio.

   - Então, Feltris está morto?, disse, caindo de joelhos ao chão, lágrimas escorriam por seu rosto.

   - Não, tilitris tolo! Levante-se! Feltris foi levado para o submundo, e sua entrada fica em algum lugar perto do Mirante dos Dragões. Será preciso esperteza para encontrar a entrada. Disse a Raposa Velha, andando de um lado para o outro.

   O Menestrel teve mil pensamentos e idéias em segundos. E eufórico, disse:

   - Então realmente há uma passagem por dentro da cachoeira que fica abaixo do Mirante! Deve ser lá! Preciso ir o quanto antes...

   Dando pulinhos de alegria, o Menestrel perguntou o que a Raposa Velha achava daquilo. E ela o achou muito esperto por levantar aquela hipótese.

   - Fique mais um dia aqui, e darei bons conselhos e truques a você, disse a Raposa Velha.

   - Sendo assim eu digo sim! O Menestrel estava radiante e as raposas uivavam alegres.

   A Raposinha começou a farejar algo estranho, e alertou a todos de que outro caminhante estava perto.

   - Vá, Raposinha, mas tenha cuidado desta vez! , gritou a Raposa Velha.


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Daniela Ortega

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